A primeira sessão da TertúLi(g)a dos Amigos de Alenquer,
promovida pelo Grupo Debater Alenquer na
noite de sexta feira, dia 5 de Abril de 2013, abriu com chave de ouro a
iniciativa, pelo tema em discussão e pela elevação do debate e dos oradores
que, pelo trabalho académico, profissional ou autodidata realizado em prol do
tema do Património de Alenquer, se encontravam bem documentados e instruídos, tendo
contribuído para o esclarecimento dos participantes.
O Grupo Debater Alenquer, através dos seus promotores (José
Carlos Morais, Carlos Ferreira, Guilherme Coelho e Nuno Cruz Inácio) convidaram
para desenvolver o tema “Património, o que requalificar e como requalificar”,
Filipe Soares Rogeiro, João Galvão Teles e José Lourenço.
Depois da introdução da parte da Liga dos Amigos
de Alenquer, a agradecer aos promotores do debate terem aceite o desafio de
saírem do mundo virtual do Facebook para o mundo real e a abrir as portas a
outros grupos e temas de interesse municipal que queiram usufruir deste espaço,
foi a vez do grupo Debater Alenquer apresentar os participantes escolhidos e
dar voz aos mesmos.
João Galvão Teles (jurista, estudioso do tema) abriu as
apresentações, com uma abordagem centrada na análise à estratégia de
desenvolvimento urbanístico do concelho que, privilegiando a dispersão num dos maiores
concelhos em área, aumenta os custos em infraestruturas para levar a todos os
fogos os serviços indispensáveis (água, eletricidade, esgotos) e os outros
(televisão por cabo, gás, etc), aumenta o isolamento dos mais velhos e a
precarização do edificado (referindo-se muitas vezes à desertificação da Vila
Alta), dificultando a acessibilidade aos principais equipamentos (centro de
saúde, piscinas, pavilhão polidesportivo, escolas). É uma estratégia que
desativa progressivamente o tecido comercial dos centros, que se veem descaracterizados e desprovidos
de habitantes.
José Lourenço (jurista, com tese de mestrado sobre a
indústria na Vila de Alenquer) abordou um pouco a história da evolução da Vila,
desde que estava contida nas muralhas do Castelo e o seu traçado, até ao seu
desenvolvimento para a periferia depois da construção do Convento de S. Francisco.
Referiu-se à iniciativa de, em 1993, a Câmara Municipal de
Alenquer ter criado um Gabinete Técnico Local, coordenado pelo Arquiteto Miguel
Beleza, que liderava uma equipa multidisciplinar tendo em vista a preparação de
um plano de salvaguarda e reabilitação do centro histórico.
Sobre as considerações de usar a expressão «Revitalizar» em
vez de «Reabilitar», foram levantados alguns argumentos, considerando-se que uma intervenção deverá
ser feita com escala e levando em conta a regeneração do tecido social. “Se só
existir «reabilitação» e não houver «revitalização», daí por uns anos terá de
se voltar a reabilitar, porque não se cuidou.” (João Galvão Teles)
Mas seja qual for a intervenção que se desenvolva, no centro
histórico ou nas ruínas industriais (segundo José Lourenço a Vila industrial de
Alenquer tem um aspeto único que deveria ser mais explorado), deverão ser
sempre colocadas a priori as seguintes perguntas, sem resposta às quais
qualquer ação não terá sentido.
·
Para quê?
·
Porquê?
·
Para quem?
·
Como?
Filipe Rogeiro (historiador, diretor do Arquivo Municipal),
mencionou o trabalho desenvolvido de
criação, inventariação e localização dos núcleos urbanos tradicionais para os
dossiers de caracterização do Plano Diretor Municipal. A sua resposta à
pergunta «O que qualificar?» irá para estes núcleos urbanos tradicionais,
ilustrando com o caso da Vila Alta, cujos perímetros de 50 metros de proteção
dos vários imóveis de interesse público (Castelo, Igreja da Misericórdia,
Portal Manuelino do Convento de S.Francisco, Igreja de S.Pedro, com o túmulo de
Damião de Gois) em alguns casos se sobrepõem entre si. Aliás, o concelho de
Alenquer é o segundo dos concelhos do Oeste com mais edifícios de interesse
cultural (22), só antecedido pelo de Torres Vedras (com 26).
Filipe
Rogeiro comunicou ainda a recente abertura do IGESPAR para analisar a recuperação da
Igreja de Santa Catarina, com a qual se congratula, depois de um século de
degradação. Galvão Teles sugeriu a recuperação da Antiga Associação de
Proteção do Património, com iniciativas que poderiam passar por prémios de reabilitação,
para as reabilitações melhor sucedidas e José Lourenço rematou que o mote teria
de ser “salvaguardar, revitalizar, rejuvenescer”, evitando a criação de
«postais ilustrados».
O moderador José Carlos Morais concluiu, a partir das intervenções realizadas, que sessão terminou com
o convite da Liga de tomarem aquele como um espaço aberto à continuidade deste ou de outros debates
importantes para o concelho.
Das participações da assistência salienta-se a de uma jovem (Margarida
Riso) que apelou a que se apontassem caminhos de futuro, em vez de
fomentar a
discussão estéril de atribuição de culpas do passado à falta de vontade
política para levar alguns esforços mais longe. Algumas vozes que se
levantaram procuravam incentivar à criação de um movimento de reflexão e
debate, que se mobilizasse no sentido de intervir no que estivesse ao
seu
alcance, agindo como um grupo de pressão junto do poder autárquico.
Perante o choque entre o entusiasmo da juventude e o ceticismo dos que já viram outras tantas iniciativas idênticas esmorecer, deixamos a frase de Margaret Mead (antropóloga) como uma réstia de esperança: "Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos atentos e empenhados pode mudar o mundo. Na verdade, é a única coisa que o tem feito."